sexta-feira, 27 de maio de 2011

Extraído do texto O gesto do professor ensina -Terezinha Azerêdo Rios1

Extraído do texto O gesto do professor ensina -Terezinha Azerêdo Rios1

Os conceitos de ética e moral têm sido usados indistintamente. Vale fazer a
distinção, apontando a moral como o conjunto de princípios, valores, regras que
orientam a conduta dos indivíduos em sociedade e a ética como a reflexão crítica
sobre a moral, que indaga sobre a consistência e a coerência daqueles valores,
definindo/explicitando seus fundamentos.
Penso que a expressão educação moral constitui, de certa forma, um
pleonasmo. Não há educação que não tenha uma dimensão moral. Se a moral diz
respeito a princípios, crenças, regras que norteiam as ações dos indivíduos e dos
grupos na sociedade, o processo educativo, que se caracteriza como a
socialização e reconstrução contínua da cultura, está profundamente marcado por
esses valores, em qualquer instância em que se realize. Portanto, ainda que não
tenhamos consciência disso, ao ensinar, estamos revelando os valores que
sustentam nossa prática de educadores, enquanto membros de uma comunidade
específica.
Assim, todo professor é, de algum modo, professor de moral imbuído de
uma postura ética. Essa afirmação quer trazer a referência a uma característica
fundamental do processo educativo, que é a de transmitir – questionando,
construindo, reconstruindo, reconstruindo – valores, no ensinamento que se faz
cotidianamente. Ensinando Português, Matemática, Geografia, História, Artes etc,
o professor está trazendo, revelando e discutindo valores que sustentam sua
prática e a da sociedade em que vive.
Não há possibilidade de se ensinarem valores como se existissem por si
mesmos, desconectados do contexto em que se dão as relações entre os
indivíduos, em que se organiza o trabalho e em que se cria, recria e desenvolve o
conhecimento.
Como se transmitem os valores morais ou cidadãos sem recorrer a
informações históricas, sem dar conta das leis vigentes e do sistema de governo
estabelecido, sem falar de outras culturas e países, sem fazer reflexões tão
elementares como se queiram sobre a psicologia e a fisiologia humanas ou sem
empregar algumas noções de informação filosófica? E como pode instruir-se
alguém em conhecimentos científicos sem inculcar-lhe respeito por valores tão
humanos com a verdade, a exatidão, a curiosidade? Pode alguém aprender as
técnicas ou as artes sem formar-se ao mesmo tempo no que a convivência social
supõe e no que os homens desejam ou temem? (Savater, 1997:49)
Isso, entretanto, nem sempre está claro para os professores e também não
há uma intencionalidade e muito menos uma organização formal para esse
processo de socialização e questionamento de valores. Com muita freqüência, em
função dessa inconsciência, o que se encontrou em nossas escolas foi uma
educação moralista, entendida como uma forma de imposição de princípios e
regras aos educandos.

Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo do Centro Universitário Nove de
Julho.

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